Ganesha

Ganesha representa Inteligência, Sabedoria e Abundância. É considerado o “Removedor de Obstáculos“, simbolizando a capacidade de superar desafios. É um dos arquétipos mais populares e reverenciados no início de grandes demandas. Ganesha é filho de Shiva e Parvati, que representam Purusha (consciência suprema) e Prakrti (natureza criadora), sendo ele próprio a manifestação de Buddhi (inteligência superior). Pode ser visto mais sobre esse tema neste artigo.
Ganesha representa também o Omkara, AUM ou OM – som universal da criação.

Imagem: Temple Puro Hit

Ganesha incentiva-nos a usar o discernimento e a acreditarmos em nós; a irmos além das nossas limitações, muitas vezes auto-impostas. Alinha-nos com o nosso Ser mais elevado e dá-nos coragem para agarrarmos o nosso Dharma e sermos quem verdadeiramente somos, sem medos ou receios de falhar. Mostra-nos maturidade para lidarmos com os desafios e a capacidade de analisarmos as dificuldades com isenção e equanimidade. Ganesha simboliza o discernimento entre a ilusão e a realidade.

O nome de Ganesha deriva da composição de duas palavras: Gana (exército, grupo, tropa), isa (senhor). Também é conhecido por Ganapati: pati (senhor protetor) e Gananatha: natha (senhor). É, literalmente, o “Senhor das Tropas” espirituais, ou o “Senhor de todos os Seres”, que desenvolve e treina as nossas forças internas para combater os desafios. Ganesha está relacionado com o elemento Terra – Prthvi (ver artigo sobre os 5 mahabhutas) e com o Muladhara Chakra (saber mais sobre os 7 chakras aqui).

 

 

Simbolismo e Iconografia

Imagem: Yogui.co

A iconografia da sua representação revela alguns detalhes:

Cabeça de elefante – inteligência e discernimento, memória.
Presa quebrada – simboliza sabedoria e capacidade de superar as dualidades (as duas preas simbolizam os pares de opostos). Diz-se que foi partida para ser usada como forma de escrita dos Veda. Daí um dos nomes de Ganesha ser Ekadanta (uma presa). Outra versão sugere que Ganesha tenha partido a presa ao lutar contra o demónio Gajamukha.
Orelhas abertas – capacidade de escutar ativamente o ensinamento (sravanam) e a capacidade de reflexão (mananan).
Tromba – Distinção entre o real e o irreal. Simboliza viveka, capacidade de discernimento.
Tridente – Ganesha possui, marcado na testa, o trishula, símbolo de Shiva, que representa os 3 estados de consciência (vigília, sono e sono profundo). Representa também os 3 guna (sattva, rajas e tamas) e os 3 tempos (passado, presente e futuro).
Barriga – Capacidade para engolir, digerir e assimilar o que se nos apresenta.
As quatros mãos representam os 4 objetivos da vida humana (Purusarthas) e a consequente realização em cada uma delas: Artha (busca por segurança e prosperidade), Kama (busca por amor e satisfação), Dharma (valores éticos e morais ) e Moksha (buscar por liberdade e auto-realização).
Uma das mãos realiza o gesto Abhaya Mudra, que simboliza proteção, coragem, destemor e rendição ao Absoluto. Outra mão segura um machado, que corta os apegos e os obstáculos discernidos pela mente. A terceira mão segura uma flor de lótus ou um laço, que representa devoção e conexão com o Divino (bhakti). A quarta mão suporta um prato com doces que representam as alegrias e recompensas do caminho do autoconhecimento.
Rato – O veículo, montaria ou vahana de Ganesha é um rato (Musika ou Akhu) que representa a mente humana, sendo inquieto por natureza. Nervoso, agitado e faminto, o rato vive na escuridão e teme a luz. Diz a história que Ganesha, ao lutar contra o demónio Gajamukha, o transformou num rato e assumiu a sua montaria. Desta forma, o simbolismo é facilmente relacionável com a capacidade da Consciência ultrapassar o lado mais sombrio da mente, domando-a com discernimento, mesmo que seja um assunto difícil. O rato encontra-se a olhar para cima, na esperança de receber comida, cobiçando com desejo o prato de doces que Ganesha sustenta. Tal, como a mente, tem um apetite voraz e insaciável.

 

Nascimento de Ganesha

Existem várias lendas sobre o nascimento de Ganesha.

Imagem: ShreeGanesh.com

Uma lenda conta que Parvati criou Ganesha a partir de seu corpo e que pediu ao menino para guardar a porta enquanto ela tomava banho. Shiva, que até esse momento se encontrava ausente, tendo estado por um longo espaço de tempo a meditar no Monte Kailash, chegou a casa e teve a entrada impedida pela criança. Enfurecido, decapitou-o, usando o seu tridente, sem saber que era seu filho. Parvati, perante a catástrofe, ficou desesperada. Shiva, ao constatar o que tinha feito, pediu perdão a Parvati e decidiu trazer o filho de novo a vida. Ordenou as suas tropas, os Ganas, que fossem à floresta procurar a primeira cabeça que encontrassem, para substituir a do menino. Encontraram uma cabeça de elefante. Shiva colocou a cabeça do elefante no corpo da criança, chamou-o de Ganesha e reconheceu-o como seu filho.

Outra lenda diz que um dia, Parvati quis mostrar Ganesha ao planeta Saturno, sem pensar nas consequências. Saturno reduziu a cinzas a cabeça da criança e Parvati, desesperada, por sugestão do deus Brahma, substitui-a pela primeira cabeça que encontrou, tendo sido esta a de um elefante. Devido a isso, o elefante passou a ser considerado um animal prudente e sábio em toda a Índia.

Quer numa lenda, quer noutra, o facto de a criança ter perdido a cabeça e esta ter sido substituída por outra, simboliza a morte da ignorância e o renascimento como um Ser mais elevado, alinhado com o seu Dharma.


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Shiva


Referências:
Wikipedia
Ashram Urbano Atma Vidya
Deuses da Mitologia – Editora Minerva
Yogapro.br – artigo de Gloria Arieira