Ramayana – um breve resumo

O épico Ramayana, escrito por Valmiki, é de incomparável importância na literatura indiana e mundial e está repleto de metáforas preciosas.

Nascimento e juventude de Rama – Bala Kanda
O deus Brahma havia dado um grande benefício ao rei demónio Ravana, que este não poderia ser morto por nenhum outro Deus. Ravana cresceu cada vez mais forte e poderoso e começou a colocar a Terra em risco de uma forma muito perigosa. Então Brahma foi até o deus Vishnu para pedir auxílio, e pediu-lhe que encarnasse na terra como um humano para poder conter Ravana e encaminhar a terra no caminho correto. Enquanto isso, em Ayodhya, existia um bom rei chamado Dasharatha, que não tinha filhos e que estava ansioso pela sucessão do trono. Este rei, aconselhado por sábios, realizou um Putrakameshti Yagna, uma cerimónia de concepção. Deste sacrifício emergiu um ser divino, que foi dividido em três potes e dado às três esposas de Dasharatha: Kausalya, Sumitra e Kaikeyi. As três esposas deram à luz quatro filhos: Rama, o primogénito, Bharata, e os gémeos Lakshamana e Shatrughna, respectivamente. Os descendentes cresceram e foram educados pelo sábio Vasistha. Certo dia, o sábio Vishwamitra visitou o reino e pediu a Dasharatha que o deixasse levar o príncipe Rama para o ajudar a combater demónios que se encontravam a perturbar a paz no local onde habitava. Dasharatha concordou e deixou Rama e Lakshman irem na jornada. Durante esse tempo, o grupo visitou o reino de Mithila, onde Rama ouviu que o rei Janaka estava a oferecer a mão da sua bela filha Sita ao homem que conseguisse entortar o arco do deus Shiva. Rama cumpriu a prova sem esforço e levou Sita para Ayodhya como recompensa.

Casamento com Sita – Ayodhya Kanda
Em Ayodhya, o rei Dasharatha estava cansado de governar e decide nomear Rama como seu sucessor. A raínha Kaikeyi, com inveja, recorda Dasharatha que tinha por cumprir dois desejos, resultantes de ter salvo a vida do rei anterior. A raínha exigiu que em primeiro lugar, o rei nomeasse o filho Bharata como sucessor do trono, e em segundo lugar, que enviasse Rama em exílio para a floresta durante 14 anos. Rama obedeceu e partiu para uma longa jornada acompanhado da sua esposa Sita e do fiel irmão Lakshmana. Após a partida de Rama, o rei Dasharatha morre.

Exílio para a floresta e o rapto de Sita – Aranya Kanda 
Rama e os outros sedimentaram-se num belo local denominado Chitrakuta. Enquanto isso, em Ayodhya, Bharata regressa ao reino e fica furioso ao saber o que a mãe tinha orquestrado. Devoto de Rama, decide partir em busca do irmão e suplicar-lhe para que ele regresse e assuma o trono. Quando o encontra, Rama agradece e recusa o trono, indicando que essa havia sido a ordem do pai e pede a Bharata que governe Ayodhya em seu nome. Bharata concorda, relutantemente, e faz um voto no qual terminaria a própria vida caso Rama não regressasse 14 anos depois. Bharata leva as sandálias de Rama e coloca-as simbolicamente no trono, no local do rei.

Na floresta, a irmã do demónio Ravana, Surpanakha, que tinha a capacidade de assumir qualquer forma, tentou seduzir Rama sob a forma de uma bela mulher. Rama, fiel a Sita, recusou e sugeriu que Surpanakha seduzisse Lakshmana que estava sozinho. Lakshmana também recusou e Surpanaka, enfurecida, culpou Sita pelo sucedido e tentou matá-la. Sita foi salva por Lakshmana que cortou o nariz e orelhas do demónio. Surpanakha voou de volta ao irmão Ravana e contou o sucedido. Ravana prometeu vingar-se, matar Rama e levar a bela Sita para ele. Para tal, pediu a ajuda do demónio Maricha, que assumindo a forma de um cervo dourado, cativou a atenção de Sita, que pediu a Rama que o apanhasse para ela. Calculadamente, Maricha organizou um plano para afastar também Laskhmana e deixar Sita sozinha, e Ravana raptou-a, voando com ela pelos céus. Jatayu, águia da família de Garuda, montaria do deus Vishnu, viu o rapto de Sita e tentou salvá-la mas Ravana cortou as suas asas. As encontrar Jatayu, Rama e Lakshman aperceberam-se do que tinha acontecido.

O reino dos Vanara – Kishkindya Kanda
Continuando a busca por Sita, Rama e Lakshmana encontram o reino vanara (vanara são, no épico Ramayana, uma espécie de símios gigantes). Os oficiais do reino vanara, Kishkindha, Sugriva, e Hanuman, concordaram em ajudar Rama na sua busca. Estes encontraram Sampati, águia gigante, irmão de Jatayu, que tinha uma visão incrível e esta avistou Sita aprisionada num jardim de árvores Ashoka na ilha de Lanka, para além do oceano.

 

Ajuda de Hanuman – Sundara Kanda
Foi enviado um exército para salvar a princesa e Hanuman expandiu o seu corpo em proporções épicas (conhecidas no asana Hanumanasana), criando uma ponte por cima do oceano. Olhando por cima da montanha Trikuta, Hanuman conseguiu espreitar e aperceber-se da organização do Lanka. Assumindo a forma de um gato, esgueirou-se pelas ruas da cidade e encontrou Sita, visivelmente abalada. Depois assumiu a forma de um pequeno macaco e entrou o anel de Rama a Sita, como prova de que estaria ali a pedido do príncipe para a salvar. Sita recusa ir com Hanuman, dizendo que teria de ser o próprio Rama a salvá-la. Como prova que Hanuman pudesse levar a Rama, Sita entregou uma preciosa jóia. Ravana encontra os dois e ameaça cortar os braços de Sita caso a jovem não se rendesse a ele em dois meses. Hanuman ficou revoltado, disse que era mensageiro de Rama, e exigiu a devolução de Sita. Ravana pediu a execução de Hanuman, contudo foi alertado pelo seu irmão que seria contra as escrituras matar o mensageiro, que lhe sugeriu incendiar a cauda do vanara. Hanuman, com a cauda a arder, colocou todo o Lanka em chamas. Voltou a assumir a forma de um pequeno macaco, soltou-se das amarras e regressou para junto de Rama, de forma a organizar um exército de homens, vanaras e outras criaturas da floresta, dedicado a salvar a princesa.

A batalha – Yuddha Kanda
Rama meditou em jejum durante 13 dias em oração ao deus Varuna, pois temia que não fosse possível cruzar o oceano sem a existência de uma estrutura sólida. Hanuman seria o único a consegui-lo. Então o deus das águas Varuna aparece perante Rama e pergunta porque ele, um avatar de Vishnu, estava humildemente a pedir-lhe ajuda. Rama respondeu que teria de o fazer como um humano, de forma a cumprir o seu dharma. Varuna disse-lhe que o iria ajudar e que os mares suportariam qualquer estrutura colocada pelo seu exército. Foi então construída uma ponte entre o sul da Índia e a ilha de Lanka (setubandha). A construção contou com o apoio de todas as entidades vivas, entre elas macacos, ursos e animais da floresta.
No Lanka, a população estava aterrorizada com a chegada de Rama, inclusive Vibishana, irmão de Ravana, abandonou o local quando aconselhou Ravana a fazer paz com Rama. A batalha começou. As forças do bem ao lado de Rama, incluindo Vishnu e Indra, e as forças do mal ao lado de Ravana. Após 10 dias de batalha foi decidido que a luta final seria um contra um. Rama apontava o seu arco e atingia as cabeças de Ravana, mas depressa elas cresciam novamente. Então Vibishana aconselhou Rama para olhar para o umbigo do demónio, que continha o néctar capaz de regenerar as cabeças. Rama usou a arma Brahmastra, arma divina de Brahma, para exterminar Ravana, acertando-o no coração. Esta arma tem a capacidade de ser altamente destrutiva, seleccionando apenas um alvo, sendo certeira como um míssil. Ravana faleceu mas por respeito a sua viúva, Rama permitiu que fossem realizadas as honras fúnebres, dirigidas por Vibishana .

Provação de Sita
Sita ficou feliz por estar de novo nos braços do seu amado. Contudo, Rama, não a aceitou como esposa, uma vez que esta teria estado muito tempo em cativeiro em casa de Ravana. Sita tenta provar a sua pureza mas perante a rejeição de Rama, Sita pede para que seja construída a sua pira funerária (Agni Pariksha) pois preferia morrer a viver desprezada pelo seu amado. Perante toda a população, Sita avança, sem medo, para o fogo, tendo sido recebida nos braços do deus Agni. Tendo a prova sido cumprida e a pureza de Sita comprovada, Rama confessa a Lakshmana que sabia de antemão que o rapto ia acontecer e que esta seria a forma de recuperar Sita.

Regresso a Ayodhya – Uttara Kanda
Rama, Sita e Lakshmana regressam a Ayodhya, tendo sido recebidos com muita alegria, com guirlandas de flores e em cada janela foram colocadas lamparinas (divas). Ainda hoje esse regresso é celebrado no Festival das Luzes, o Diwali.
Contudo, não tardaram a haver rumores sobre a estadia de Sita em Lanka e Rama, sob pressão dos habitantes, decide enviar Sita para o exílio, para a mesma floresta onde tinham estado 14 anos.

Sita banida para a Floresta
Na floresta, Sita encontra Valmiki (sábio que escreveu esta obra) e encontra refúgio no seu lar. Valmiki torna-se seu professor e este ajuda-a a dar à luz e a criar os seus dois filhos gémeo, Lava e Kusha. Passados 20 anos, Rama ficou com remorsos de ter morto Ravana, que era filho de um brâmane, e decide compensar os deuses com o ritual de Ashvamedha, onde um cavalo é solto na floresta. Esse cavalo foi apanhado pelos seus filhos gémos e quando Rama os reconheceu, ficou sensibilizado e chamou Sita para viver novamente com ele em Ayodhya.

Nesse momento Sita apelou à terra, que se ela não tivesse amado outro homem senão Rama e que se a terra reconhecesse a sua verdade e pureza, que a terra se abrisse e a engolisse. Então nesse momento a terra abriu-se, surgindo nela um belo trono com Bhumi, a deusa da terra, sentada sobre ele e esta acolheu Sita em seus braços.

Este resumo é meramente ilustrativo dos momentos mais importantes de clássico.
Para um estudo mais completo, é importante a leitura da obra da íntegra.
A professora Glória Arieira tem um podcast extraordinário onde partilha os seus conhecimentos.


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Sita
Hanuman

Referências:
Ramayana – Wikipédia
Glória Arieira – Podcast no Spotify

Imagens:
Pesquisa Google / Wikipedia